maio 18, 2024
À Olavo Bilac: Um tributo poético
Florão da América
Marcos Peniche recebe Diploma de Honra ao Mérito da OIPALPO
Brincando com os sonhos
A paz
Os Benefícios das Assinaturas Digital e Eletrônica
MAB Margens – Feira de Artes Gráficas
Últimas Notícias
À Olavo Bilac: Um tributo poético Florão da América Marcos Peniche recebe Diploma de Honra ao Mérito da OIPALPO Brincando com os sonhos A paz Os Benefícios das Assinaturas Digital e Eletrônica MAB Margens – Feira de Artes Gráficas

Bruna Rosalem: '6 de Maio: aniversário daquele que se aventurou nos emaranhados da mente humana!'

Print Friendly, PDF & Email
Bruna Rosalem

COLUNA: PSICANÁLISE E COTIDIANO

6 de Maio: aniversário daquele que se aventurou nos emaranhados da mente humana! 

Hoje, a psicanálise se faz mais necessária do que nunca para o enfrentamento deste mundo tão líquido em que vivemos, onde parece que nossas experiências de vida precisam ser “virarizáveis” o tempo todo para fazer sentido, e nossas emoções e sentimentos passam a ser controlados e “resolvidos” ao passo de uma receita, de uma dosagem. Como se nossas afecções e angústias fossem “aspirináveis”, “rivotrizáveis”. 

 

A psicanálise enquanto método investigativo, interpretativo, empírico, pretende buscar as causas de nossas afecções, isto é, do conteúdo que manifestamos através dos sintomas. Sintomas estes, por exemplo, de angústia, depressão, ansiedade, pânico, atos falhos, gestos involuntários, fantasias, sonhos, a maneira como escolhemos nossos afetos, como nos relacionamos com as pessoas, com as coisas e com nós mesmos. Todos estes elementos são conteúdos originários das formações inconscientes. A psicanálise então irá desvelar a gênese destes sintomas, investigando quais afetos estariam relacionados com a dor psíquica, ao sofrimento, as neuroses. 

Sigmund Schlomo Freud foi o precursor dessa ciência, e diria mais, arte! Ele nasceu em 6 de maio de 1856 em Freiberg, na Morávia, atual República Tcheca. Sua família era de origem judaica. Entre irmãos e meio-irmãos, sua mãe Amália, terceira esposa de seu pai Jacob, era vinte anos mais nova. Freud tinha dois meios-irmãos que eram cerca de vinte anos mais velhos que ele. Além disso, foi o primogênito de sua mãe; num total de oito filhos, ela o chamava de “Sig de Ouro”. 

Sua formação era de médico psiquiatra e neurologista. Inicialmente trabalhou com Breuer em seus estudos sobre a histeria e depois com Charcot quando utilizou por algum tempo a técnica da hipnose com seus pacientes. 

Freud enfrentou algumas turbulências em sua época e teve grandes conquistas que o influenciaram em sua empreitada pela psicanálise. Ele foi perseguido e seus livros queimados pelo regime nazista no ano de 1933. 

Freud faleceu em Londres, Inglaterra, em 1939, aos 83 anos, vítima de um câncer na garganta. Suas dores eram insuportáveis. Fez mais de 30 cirurgias. Para findar seu sofrimento, recebeu doses cavalares de morfina, administradas pelo seu médico com o consentimento de sua filha, encerrando assim sua trajetória de vida. Em termos numéricos, Freud escreveu cerca de 20 obras, mais de 300 artigos e aproximadamente 20 mil cartas. Ele simplesmente não parava de trabalhar! Freud que falava tanto em obsessões, era um verdadeiro obsessivo. Nunca se satisfazia com sua escrita, queria sempre mais e mais. Fazia muitas revisões de seus próprios textos, resultando em escritos ainda maiores. Desde muito jovem além de se apaixonar por literatura, já falava fluentemente pelo menos mais quatro idiomas: grego, latim, francês e inglês. 

Em linhas gerais, os principais conceitos de Freud foram: a existência de processos psíquicos inconscientes; as instâncias psíquicas e a dinâmica do aparelho psíquico; as resistências, mecanismos de defesa e o recalque; desenvolvimento psicossexual e a problemática do Complexo de Édipo; conceito de transferência, a interpretação dos sonhos enquanto técnica de análise; a associação livre. Freud também nos apresentou o estudo de caso do menino Hans enquanto discussões iniciais de uma possível psicanálise para crianças que, depois dele, os chamados pós-freudianos Donald Woods Winnicott e Melanie Klein, se aprofundaram. 

A pergunta que se faz e que circunscreve toda a obra freudiana é: Qual é a causa de nossos atos? Como funciona nossa vida psíquica? Já dizia S. Freud: “A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do Complexo de Édipo são conteúdos principais da psicanálise e fundamentos da teoria, e quem não estiver em condições de subscrever todos eles, não deve figurar entre os psicanalistas.” 

Então, de começo, para se fazer psicanálise, é preciso estar em consonância com estes preceitos fundado pelo pai desta área tão instigante que investiga o psiquismo humano. 

Em essência, a nossa vida psíquica é regida pela instância inconsciente (isso ou id) que comanda todas as nossas ações, sejam elas voluntárias ou involuntárias, pensamentos, desejos, vontades e necessidades. Este inconsciente é abundante, gigante, imenso! Ele abrange todo o nosso psiquismo e comanda tudo o que fazemos e, claro, tudo aquilo que gravita em nossa mente sejam ideias, imagens, impulsividades, noção, sonhos, entre outras manifestações. 

Nós temos neste inconsciente cargas energéticas (pulsões, trieb em alemão) que nunca se esgotam. Inclusive a carga está sempre em busca de alguma resolução, descarga, saída. O psiquismo tenta obedecer a este princípio que visa a descarga total e absoluta da tensão, mas sem conseguir êxito. Ou seja, nossas resoluções são sempre parciais. E mais, o desejo nunca é alcançado em sua plenitude. Temos a falta e esta mesma falta nos torna seres incompletos, frustrados e sempre desejantes. E é isso tudo que movimenta a nossa vida! Se conseguimos algo, logo este algo já não está mais tão bom, vamos em busca de outro algo e assim sucessivamente até o findar de nossos dias. 

Freud teve excelente desempenho na época escolar, por ser judeu frequentou a escola de Medicina da Universidade de Viena em 1873; naquela época Medicina e Direito eram as únicas opções para judeus em Viena.  

A princípio, Freud realizava pesquisas na área de neurologia trabalhando com lampreias. Depois de um certo tempo, por volta de 1878, fez amizade com o médico e psicólogo Josef Breuer; esta amizade foi de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho de Freud, pois Breuer começara a tratar os pacientes histéricos através do método da hipnose e incentivando-os a falar do passado.  

A paciente de Breuer, Anna O., chamava todo esse processo de ‘a cura pela fala’ ou ‘a limpeza da chaminé’, pois incitava a falar de sentimentos e emoções que permaneciam até então ‘guardados’ em algum lugar da mente que era impossível acessar em estado de consciência e, ao visitá-los (ou revisitá-los) em estado hipnótico, as lembranças emergiam e assim os sintomas de sua histeria poderiam ser aliviados. Freud escreveu Estudos sobre a histeria em parceria com Breuer e, logo depois, partiu em viagem para Paris onde foi aprimorar seus estudos em hipnose com o neurologista francês Jean-Martin Charcot.  

No ano de 1886, Sigmund Freud passou a atender em sua clínica particular. A princípio utilizou a hipnose para tratar seus pacientes histéricos e neuróticos, porém percebeu que obteria mais conteúdos significativos se os deixassem falar livremente aquilo que lhes viesse à mente, sem sugestionar ou fazer direcionamentos, deixando-os à vontade sentados ou deitados em divã. Esse método ficou conhecido como Associação Livre. Nele o psicanalista ouve atentamente a fala do paciente, numa espécie de atenção flutuante, e em momentos oportunos, faz pontuações que podem vir a ajudar o paciente a elaborar e produzir insights 

 Dessa forma, é possível analisar o que foi dito e determinar qual ou quais acontecimentos traumáticos, ressonâncias, fragmentos, ecos, elementos que se instauraram, poderiam ser responsáveis pelo sofrimento do paciente. Inaugura-se então um novo conceito de tratamento para as aflições e as neuroses: a Psicanálise. Esta ciência com arte vai buscar a interpretação dos conteúdos inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de uma pessoa, baseados nas associações livres e na transferência com o analista em direção a origem dos conflitos. 

A partir desse momento, Freud publica três livros que vão influenciar para sempre a compreensão da psique humana: A interpretação dos sonhos em 1900 (edição revisada), onde os elementos imagéticos que surgem enquanto a mente não está em vigília são passíveis de interpretação e que, portanto, são desejos inconscientes. Também publica Psicopatologia da vida cotidiana, onde discorre a respeito dos atos falhos que são originários de uma estrutura mental dinâmica e Três ensaios sobre a sexualidade, onde apresenta a teoria do Complexo de Édipo. 

A teoria do desenvolvimento psicossexual é uma das mais emblemáticas de todas as teses engendradas por Freud. Segundo ele, a personalidade de uma pessoa, em sua maior parte, começa a ser estabelecida aos 6 anos de idade (quando depois da fase egóica, surge como fruto, o superego) e que quando se perpassa pelas fases predeterminadas com êxito (oral, anal, fálica e genital), o resultado seria uma personalidade saudável e equilibrada com as resoluções internas. Do contrário, uma má administração, digamos assim, das etapas do desenvolvimento, levaria a uma personalidade doentia, paranóica. Segundo Freud, nosso corpo é repleto de zonas erógenas que nos provocam a sensação de prazer, desejo e a estimulação. O fracasso na conclusão de uma das etapas do desenvolvimento sexual, deixaria a criança com fixação em alguma zona erógena, e que, conseqüentemente, levaria o adulto a apresentar excesso ou falta. 

Para Freud, toda essa dinâmica que envolve a vivência das etapas do desenvolvimento psicossexual, bem como o desenrolar de nosso aparelho psíquico caracterizado pelas estruturas da personalidade; ao ser experienciada de maneira saudável e equilibrada, permite a constituição de um ego mais fortalecido em relação as investidas do id e ao julgamento do superego. E esse é justamente o propósito da Psicanálise, nas palavras de Freud: “é fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do superego, ampliando seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder assenhorar-se de novas partes do id.” 

Freud e todo o seu legado trouxe uma perspectiva de olhar tão marcante e intrigante acerca do que se sabia até aquela época sobre sexualidade, personalidade, sonhos e terapia para o campo da psicologia e da psiquiatria que, indiscutivelmente, mesmo depois de mais de um século de suas produções, estas sempre serão contemporâneas e de imensa contribuição intelectual, passe o tempo que passar. 

Hoje, a psicanálise se faz mais necessária do que nunca para o enfrentamento deste mundo tão líquido em que vivemos, onde parece que nossas experiências de vida precisam ser “virarizáveis” o tempo todo para fazer sentido, e nossas emoções e sentimentos passam a ser controlados e “resolvidos” ao passo de uma receita, de uma dosagem. Como se nossas afecções e angústias fossem “aspirináveis”, “rivotrizáveis”. 

Sigmund Freud, descanse em paz, porque nossas mentes jamais estarão. 

 

 

Bruna Rosalem 

Psicanalista Clínica 

@psicanalistabrunarosalem 

www.psicanaliseecotidiano.com.br 

Claudia Lundgren
Últimos posts por Claudia Lundgren (exibir todos)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Pular para o conteúdo