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Bruna Rosalem: 'Você é capaz de ficar em silêncio?'

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Bruna Rosalem

PSICANÁLISE E COTIDIANO

Você é capaz de ficar em silêncio?

O historiador francês Alain Corbin, em seu livro “A História do silêncio: do Renascimento aos nossos dias” nos presenteia com uma brilhante narrativa trazendo o silêncio como protagonista.

Ao longo da história retratada na literatura, o autor nos aponta a busca por momentos silenciosos, desde retirar-se para os cômodos da casa, como quartos, jardins, escritórios, pequenas bibliotecas particulares, até lugares como cemitérios, retiros, matas, em frente ao oceano, mosteiros, ou através de longas caminhadas solitárias, meditação e oração. Corbin nos apresenta como o silêncio é valorizado por escritores e artistas em geral, seja em um exercício de contemplação, ou a capacidade de ficar consigo mesmo e poder ouvir os próprios pensamentos, aquietar a mente e estimular a criatividade.

Embora vivenciar o silêncio nos remeta a ideia de não ouvir ruído algum, isso não é verdade. É impossível não escutar os sons a nossa volta. Barulho de carros na rua, de alguma obra na vizinhança, pessoas falando ao longe, buzinas, canto das aves, ranger de portas, som das ondas do mar, e uma infinidade de ruídos que conseguimos captar até mesmo inconscientemente através do sentido da audição.

Quando pensamos no que seria o silêncio, talvez estaríamos nos referindo à capacidade de ficarmos calados. Pode soar como algo tão simples, no entanto, principalmente para os mais extrovertidos, parece ser uma tarefa árdua. Já para os introvertidos, ficar sem falar, participa mais de seu cotidiano. Contudo, ainda assim, nos dias atuais ninguém está imune ao bombardeio de estímulos sonoros nos invadindo constantemente. Nos dá a impressão de que ao menor sinal de silêncio, este “lugar” que ele ocupa precisa ser preenchido.

Corbin no diz que atualmente é difícil fazer silêncio, o que nos impossibilita compreender essa palavra interior que acalma e satisfaz. A sociedade nos impõe ao ruído, fazendo parte de tudo em vez de escutarmos a nós mesmos, modificando a própria estrutura do indivíduo. E muitas vezes nos perdemos, quase que sufocados pela hipermediatização e permanente conexão com os diversos aparelhos tecnológicos que temos à disposição, a menos de um toque. Avalanches diárias de estímulos sem descanso. E quando o silêncio irrompe sem aviso, o tememos; nos apavoramos com a sensação do desconhecido que ele carrega consigo; passamos a receá-lo e a evitá-lo.

Felizmente, para muitos, o cair da noite parece abrir passagem ao imponente silêncio que pede licença para habitar, pelo menos por algumas horas. Na madrugada, o coração do silêncio bate mais forte, pulsando as mentes dos notívagos que admiram a vida noturna e conseguem produzir mais, pensar melhor, criar e contemplar.

Uns temem, outros veneram. Silêncio ensurdecedor. Silêncio acolhedor. Ora ameaçador. Ora doce, sutil e delicado.

Em certas ocasiões da vida, as palavras podem não ser suficientes para descrever o que nos angustia, por exemplo, então, exercer uma escuta íntima do silêncio, reencontrar-se em meio a presença silenciosa, na interioridade absoluta, pode nos permitir atravessar essa sensação, superando a palavra. Prestar atenção no peito que respira, no corpo que emana energia, na textura da pele, na beleza sensível do ser.

O silêncio pode ser de morte. Do fim trágico. Da ausência.

Mas também pode trazer acalento e paz. Companhia e sabedoria.

De alguma maneira ele existe e se manifesta. E é na singularidade de cada sujeito que ele toma forma, desenha contornos e ganha sentido.

Bruna Rosalem

Psicanalista Clínica

@psicanalistabrunarosalem

www.psicanaliseecotidiano.com.br

 

 

 

 

 

 

Bruna Rosalem
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