Elza Francisco: ‘Sou bicho do mato’
Sou bicho do mato
Nasci na senzala
E continuo habitando
o meu canto verde.
Pássaros, borboletas,
abelhas, marimbondos,
insetos nocivos…
gato, cachorro,
fazem parte do meu habitat.
As árvores…
graviola, pitanga, araçá,
goiaba, mamão, abacate,
acerola, uvaia, sapoti,
jabuticaba, lichia, limão,
longana, caqui,
cercadas de palmeiras
onde cantam os sabiás.
pé no chão,
sol cambiante,
chuva criadeira.
As flores dão o tom
ao sorriso matreiro
para as lendas fugazes.
No entorno do fogão à lenha,
a rede acolhe a inspiração,
parideira de poesia.
Sapatos e sortilégios
fugiram do meu armário.
O trabalho formal,
cheio de protocolos,
paradoxal,
deu lugar à brisa soprada
pela lua fininha
romântica e faceira.
Ser bicho do mato,
enleva a minha gênese: Puri.
Na minha aldeia…
sou bicho do mato!
Elza Francisco
elza.francisco@uol.com.br