António José Alexandre: ‘O homem do saco’
O homem do saco*
Vejo todos os dias a miséria nua na rua, abraçando o povo fobado.**
Vejo o homem do saco, levando tudo, comendo inteiramente o erário.
Na escuridão, enxergo a maldade ordinária deixando cada vez mais pobre o operário.
Sinto o cheiro da paz podre, uma paz que deixou o operário embaciado.
Vejo através da janela crianças famélicas catando sobras na lixeira.
Na prosa do homem do saco a promessa está mantida levando o operário à escuridão.
Vejo sempre o homem do saco, num repasto de primeira.
Mas o operário e o filho do operário sobrevivem de um projeto utópico da nação.
Vejo o homem do saco, na escuridão, levando tudo e comendo tudo.
E na promessa de um dia melhorar a vida de todos sinto o cheiro da pobreza.
Vejo a pobreza ataviando as ruas e abraçando o operário.
Ah! um dia o bem vencerá o mal, a cólera do povo está desincubada.
* Homem do saco. Trata-se de uma metáfora: um homem que tem tudo, porém, não apoia as crianças; pelo contrário, prejudica, pois come de tudo e não deixa nada.
** Fobado. reles, indivíduo sem importância, que nada possui.
Povo fobado. É assim que o homem do saco trata as pessoas, ou seja, para o homem do saco o povo não tem importância. Aqui o homem do saco metaforicamente é um político que rouba tudo do povo e deixa todos na miséria. O operário representa a classe trabalhadora que também é explorada pelo homem do saco
António Alexandre
antonioaalex71@gmail.com